Gabi Hoover
Em Novembro, o Portal #ElasPilotam completou três meses. Três meses é o tempo que dura uma estação do ano. É tempo suficiente pra que uma semente vire planta, desde que a gente lembre-se de: água, luz, terra e temperatura. Suculentas dão menos trabalho, precisam de menos atenção, porém com muita agua elas morrem. Cactus são super resilientes, mas acabei matando o meu congelado acidentalmente. Esqueci o vaso na varanda. Ou seja, para tudo é preciso o cuidado certo para crescer e sobreviver.
Fechamos o mês de Outubro em grande estilo, assistindo a Bruna Wladyka (foto) estrear em uma competição de Flat Track. Representando. A Bruna usou muitos chapéus nos dias que antecederam a competição: foi atleta, foi produtora, foi motorista, foi amiga, foi influencer, e levou o #ElasPilotam estampado em seu peito. Ainda no Flat Track, vimos a Edna Prado representando as mulheres, e um legado familiar, na pista. Há quem diga que elas não terminaram. Eu penso que elas voaram.
Novembro foi mês de eleição, tanto aqui nos EUA, onde eu moro, como no Brasil. E, mais uma vez, ciclos que se fecharam e abriram. Um número recorde de mulheres eleitas. Na minha cidade natal, São João da Boa Vista-SP, três candidatas disputaram a Prefeitura, e uma delas venceu. A outra foi a segunda mais votada. Aqui nos EUA, agora na Casa Branca haverá uma Vice-presidente.
Mas daí, veio o caso lá em Santa Catarina. Pipocou na minha timeline. Virou #trend. Gatilho para tantas. Me tirou o sono. Tudo que eu podia pensar era “Que mulher nunca?”, ao mesmo tempo em que lia comentários do tipo: “mas ela não deveria ter ido lá”, “mas também, com uma saia daquela”, “procurou e achou”. Enfim…. cansa, cansou e nossa vontade maior é apenas poder excluir tantas coisas das nossas vidas.
Sabemos que ainda temos um longo caminho para que esses assuntos deixem de ser manchete, para que esses crimes parem de existir e não nos cansem mais. Para que não tenhamos mais medo do que pode acontecer se andarmos sozinhas, bebermos um pouco além da conta, sairmos com pessoas erradas. A gente quer voltar e chegar em nossas casas sãs e salvas.
Fui visitar uns arquivos do meu blog pessoal (o estrangera.com), onde escrevo em inglês e português sobre as transições de uma vida estrangeira. Resgatei um pequeno pedaço de pensamento jogado ao léu de 2018:
APENAS PENSE
(tradução livre da autora)
E se a gente apenas parasse com o apontar de dedo, o julgamento de aparências, o “ela pediu”. Parassemos com nossas reclamações e comentários sobre as escolhas de outros? E se a gente apenas respeitasse a individualidade e a personalidade de cada um? E se a gente finalmente entendesse que não haverá igualdade se não abraçarmos nossas diferenças? #imagine
A gente aqui fala para e com mulheres, mas todos são bem-vindos, homens também viu, afinal nosso segmento nos ensinou isso, um mundo feito para todos os seres humanos que se sentem adeptos a se movimentarem com a gente. Nossas pautas abordam estilo de vida com foco no motociclismo. Compartilhamos experiências, formamos uma rede, ajudamos umas as outras.
Mas talvez você não saiba o que tenha nos motivado, então vou te contar:
Entre as mulheres que gostam de moto, sabemos que o mundo duas rodas é predominantemente masculino. E a gente também sabe que tem muita gente (mulheres e homens) que abusa, julga, aponta, e faz especulações sobre outros seres humanos. Mulheres no motociclismo não é moda. Sempre existiu (vai pesquisar). O que é novo, embora muita gente não perceba, são as redes sociais. E as redes sociais estão ajudando na conversa.
Sabe aquele negócio do ciclo, então: as redes sociais nos tiraram da sombra, figurativamente falando. A gente se acha, a gente se fala, a gente se protege, a gente se encontra. A gente se movimenta.
Se você não nasceu ontem, já deve ter percebido como é esse "jogo" da internet, ou melhor, das redes sociais: a exposição ou a falta dela, os likes, o engajamento, os comentários.
Tem gente que posta de biquíni, tem gente que vai pelada. Tem menina que anda de moto de tenis e outra de bota de salto. Eu passo calor, mas estou sempre em full gear. Tem quem vai pra pra paquerar, pra “tomar conta”, ou só porque a música é boa. Resumindo:
tem quem objetifica, quem quer ser objetificado, quem não está nem ai pra nada, e tem aqueles que querem ficar de boa com todo mundo. Tem quem enxerga uma fonte de renda ou apenas uma diversão, uma descontração. A escolha é de cada um.
E a Terra, esse planeta que a gente vive, continua se movimentando em torno do Sol, a mesma estrela que é responsável pelas estações do ano, que mudam de três em três meses. Assim como nós, que continuamos nos movimentando em busca de energia, de luz, de transformação.
“Já vencemos tanto e ainda não saímos do lugar parece”, comenta Alice em um dos chats da redação pelo Whatsapp.
Faço aqui uma proposta: será que a gente pode deixar de lado nossas diferenças, respeitando a história, a vida, e as experiências de cada uma.
Será que a gente pode ser remo, ao invés de âncora?
Temas sobre “objetificação” e “rivalidade” sempre vão aparecer, são conversas de banheiro na hora do recreio. Que a atire a primeira pedra quem nunca fez uma fofoquinha. É da nossa natureza. Let’s own it! (vamos assumir) e Virar a página.
Fato é, quem fica preso no banheiro, não põe fogo no parquinho.
Agora é com você: vamos continuar essa conversa.
O que você pensa sobre esse tema? Deixe seu comentário.
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