Por Amanda de Carvalho
"What a night, huh?" e eu penso "que mês, né?". É a volta dos irmãos Gallagher, e consequentemente o britpop vindo com força aí, é a estreia de Longlegs totalmente dividido nas críticas e com atuação do Nicolas Cage (levei alguns spoilers e para um filme de terror me deixar animada pra assistir, olha... é raro. não perderei por nada), é o Trent Reznor fazendo o Bryan Ferry lançar música nova depois de 20 anos, é o Milo Ventmiglia no That Was Us, é o mercúrio retrógrado indo embora... realmente acho que agosto é o que falam, o agente do caos.
Algumas semanas atrás fui ao limbo novamente, mas me recuso a ficar nele - foi uma breve passagem pra lembrar onde estou e quem sou, forjada à não mais esquecer que as pessoas dão aquilo que são. Ironicamente, cruzei com uma das reflexões da Bea Gonçalves, que tanto gosto, em que falava do silêncio ter som de mar. Eu tenho praticado muito o silêncio e sinto falta desse em específico, também é o meu favorito.
Fiquei pensando o que eu poderia escutar que me "teletransportaria" para o mar e cruzei com os 30 anos de Grace do Jeff Buckley. Ouvi-lo me fez lembrar uma época extremamente melancólica da minha vida, em que eu odiava a praia (olha aqui a ironia!), era uma adolescente irritada, não sabia processar direito as emoções (não que eu saiba muito hoje em dia sobre elas, mas com certeza melhor do que antes hahaha) e que tinha beijado apenas uma vez. Na verdade, foi uma ótima coincidência lembrar disso - como a vida capota.
Eu ouvi, ouvi e ouvi o Grace neste mês de agosto. Acredito que faz jus a todos os artistas que ele inspirou ao longo dos anos (e inspira até hoje) e todas as declarações de ser uma obra-prima. O álbum em si tem um "peso" tão grande no nosso íntimo. Você sente que tá perdendo alguma coisa que nem teve, sabe? Sente uma ode à beleza, ao divino e a tristeza da parte que falta. Enquanto eu visitava o meu inferno particular nas semanas passadas, tudo acima me fez companhia.
Pra quem chegou até aqui e não conhece de quem estou falando, o Jeff Buckley morreu muito cedo (1997) por causa de um afogamento enquanto nadava no rio Mississipi e ficou eternizado por sua voz maravilhosa - além de ser um ótimo letrista e guitarrista. Foi filho de musicistas (tava no sangue), estudou e começou como muitos, de bar em bar. Grace foi seu único trabalho em 1994 (gosto de pensar assim, visto que o segundo álbum - My Sweetheart the Drunk - que seria lançado no mesmo ano de sua morte, mal pode desfrutar) e conquistou muitos na época, mas o estrondo veio somente póstumo, se estabelecendo como um dos maiores e mais talentosos músicos dos EUA.
É difícil pensar em quem escuta o disco e sai imune; sem atingir uma reflexão dos sentidos da vida & presente, passado e futuro. São 10 faixas pra você aproveitar o finalzinho desse mês turbulento e pensar por aí que também vai passar - seja lá pelo o que você estiver passando. E se não passar, nós aprendemos a conviver com o incômodo, contando com dias amenos e revoltos, e voltar ao (bom) silêncio.
PS: A título de curiosidade, Hallelujah é um cover maravilhoso de Leonard Cohen e, embora eu adore o Cohen e o Buckley, não é a minha preferida. A minha é Lover, You Should've Come Over que as vezes empata com Eternal Life, Grace e Last Goodbye.
Sobre a autora
Amanda gosta de música, viagens, cinema e literatura. Formada em Letras, começou a atuar na Comunicação e Marketing por acaso, e especializou-se em Copywriting e Gestão de Mídias Sociais. Adora ver seus artistas favoritos ao vivo e não troca seus shows por nada. Carinhosamente é apelidada de "Amandinha do Rock" por seus amigos mais íntimos e tem um coração gigante. Seu sonho atualmente é decidir qual moto comprará e terminar de construir seu cantinho pra morar - além, é claro, de conhecer York na Inglaterra e andar pelos morros que foi filmado Wuthering Heights de 2009. PS: escrevi tudo em terceira pessoa porque acho chic, risos.
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