Por Alice Castro
Se você acha que tem desafios na sua realidade e aonde você vive, imagine-se no final do século XIX, em um país que às mulheres muito pouco era permitido além do casamento e exercício da maternidade, e quando não lhe eram dados direitos à liberdade de expressão e ao voto. Imaginou?
Então vamos apresentar a você uma mulher dessa época, uma pioneira que imaginou, planejou e... realizou feitos incríveis até para os padrões atuais. E ela o fez simplesmente porque era mulher, e desejava inspirar e mostrar ao mundo que todas nós podíamos (e podemos) tudo, mesmo “sendo” e “ainda” que fossemos mulheres!
Embora clichê, a frase “desacreditando ser impossível, foi lá e fez...” descreve exatamente o que a nossa personagem histórica realizou. Seu nome é Annie Cohen Kopchovsky, mais conhecida como Annie Londonderry (foto), e
em 1894 saiu de casa para dar a volta ao mundo em sua bicicleta.
Nascida em Riga, Letônia, Annie imigrou para os Estados Unidos ainda criança, estabelecendo-se com os pais em Boston. Como destino inquestionável à época, casou-se bem jovem e foi mãe. Mas Annie não se limitou aos tabus e dogmas que lhe eram impostos, e adotou postura defensora e ativista da causa feminina e pelo voto.
Trabalhando como jornalista para sustentar a família, ela se inspirou numa disputa entre dois moradores ricos de Boston, que apostaram US 10 mil dólares de que nenhuma mulher conseguiria dar a volta ao mundo em uma bicicleta. Fosse pelo dinheiro ou pelo desafio, Annie decidiu que seria a primeira.
Nos idos de 1890, a bicicleta se tornara uma forma popular de transporte e sinônimo de independência para as mulheres, inclusive com efeitos culturais no mundo feminino, notadamente na moda. As vestimentas femininas utilizavam-se de vestidos e saias confeccionados com pesados tecidos, e o uso das bicicletas implicaram na introdução das ceroulas, saias mais leves e largas. E foi o primeiro passo para a libertação!
A moda feminina foi influenciada pela bicicleta.
E assim, desse jeito, no dia 25 de junho de 1894, frente a uma multidão de 500 pessoas à Massachussets State House, ela subiu em sua bicicleta de quase 20 kg, e partiu para “a viagem mais extraordinária já realizada por uma mulher”, frase que quinze meses mais tarde a tornaria famosa pelo New York Times.
Detalhe: Annie aprendera a pedalar poucos dias antes de sua partida.
Os muitos obstáculos de Annie foram contornados e superados tanto pela sua coragem como desenvoltura, inclusive ao trocar sua bicicleta “de mulher” por um modelo masculino, este com metade do peso, e após 3 meses de viagem.
Graças ao patrocínio da companhia de água Londonderry Lithia Spring, para a qual carregava um cartaz de anúncio, a ativista ficou conhecida como Annie Londonderry, e com apenas 500 dólares para cobrir suas despesas, viajou o mundo em seu próprio roteiro.
Como os termos da aposta não especificavam quantas milhas deveriam ser vencidas, saindo dos Estados Unidos ela pedalou pela Europa e Ásia Oriental, com paradas no Egito e Cingapura, seguindo para a China e Japão, retornando aos Estados Unidos em 23 de março. Pelos próximos seis meses viajou ainda pelo Sudoeste e Centro-Oeste americanos, alcançando Chicago em 12 de setembro de 1895.
Apesar do escrutínio da imprensa e contrariando as normas de gênero da época, Annie Londonderry venceu a aposta, provando ser uma ciclista formidável, notadamente em suas rotas improvisadas pela América. E a todos que posteriormente alegaram fictícia sua realização, Annie escreveu:
“Eu sou uma jornalista e uma nova mulher, e esse termo diz que acredito que eu posso fazer qualquer coisa que um homem pode fazer.”
Sua viagem encontra-se narrada no livro “Around the World on Two Wheels”, de seu sobrinho-neto Peter Zheutlin. Ainda não o lemos, mas fica a dica para aquela que poderá ser uma ótima leitura de incentivo a você, Sis!
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