Por Bruna Wladyka
27 de Março, 2021: Eu tenho a honra e orgulho de começar a série #elasnapista , que será composta por histórias de mulheres que estão nas pistas mundo afora, encarando muitos desafios nas diferentes modalidades do mundo duas rodas seja na terra ou no asfalto.
Mas, pra começar, quero contar um pouco sobre a minha trajetória, e, nas próximas semanas, compartilhar a estrada de outras mulheres que vem conquistando seus espaços, pilotando suas motos e ganhando total respeito por onde passam. Vamos nessa comigo?
Minha história, nossa história!
Em Março de 2020, eu aceitei o desafio de representar as mulheres brasileiras em uma competição de Flat Track em Milwaukee, EUA, durante o evento Flat Out Friday. Meu desafio seria o de substituir uma das participantes, Melissa Paris, pilota profissional, no time do programa da Royal Enfield, BTR (Build, Train, Race).
E foi no meu SIM, em aceitar o desafio, que muita coisa aconteceu e mudou por aqui.
Refletindo sobre esse exato momento, entendi que precisava reconhecer e compartilhar o que me levou até ali...
[primeiro mergulho]
Minha vida duas rodas começou em 2013 na organização do primeiro BMS, evento duas rodas em Curitiba, PR. Eu, que sou formada em Design Gráfico, na época, cuidava da criação e conceito do evento. Mergulhei nesse universo, que posso garantir, vicia de primeira.
Foto inédita sendo postada abertamente aqui. Eu, no BMS de 2013, na garupa da equipe que fez o show de wheeling no evento rsrs.
A vida seguiu, minha área expandiu e toda comunicação e marketing sempre estiveram sob minha responsabilidade ao longo desses anos, ou seja, toda nova campanha, conceito, planejamento de novas edições eram criados por mim. E, cada vez mais esse mundo (que diga-se de passagem é enorme), foi tomando conta dos meus dias.
[segundo mergulho]
O ano é 2017. Eu e Cezinha (meu sócio e parceiro de vida) montamos o único Wall of Death da América Latina, nesse mesmo ano criamos uma conexão muito forte com o Lucky Friends Rodeo, de Sorocaba, SP. Os "caipiras" da Lucky Friends que são os responsáveis por trazer o Flat Track ao Brasil, desde 2016. E para quem não sabe, Wall of Death e Flat Track são dois irmãos que andam juntos na história do motociclismo.
Com mais essa expansão em minha vida, decidi enfim tirar minha habilitação. Naquela altura, meu contato com o motociclismo estava me colocando ao lado de histórias e fatos que eu nunca havia visto antes. Descobri, por exemplo, que as as primeiras mulheres a pilotarem suas motos, competirem e a encararem o desafio das paredes 90º do "Muro", datam das décadas de 1910's e 1920's. Eu, até então, não conhecia profundamente as histórias, mas o fato é: Mulheres sempre fazendo a diferença para tudo que vivemos hoje.
"ual" pensei, " eu preciso sentir essa tal de liberdade que tanto leio, vejo e ouço falar.
[terceiro mergulho]
O mundo se abriu. Era 2018, quando o BMS deu uma baita virada de chave e mudou radicalmente seu conceito, eu com habilitação em mãos, decidi abrir novos caminhos de inclusão e transformação para as mulheres, que para mim, são tão presentes nos eventos desde 2013, idealizei o movimento #ElasPilotam (verdadeira realização da minha vida).
Na foto do meio foi o começo, o espaço criado (simples e humilde confesso) para o #ElasPilotam o objetivo era fazer com que as mulheres ali presentes sentissem e vivenciassem um evento pensando e feito para elas.
Desde então, sempre estive na produção de eventos, montagem do Wall of Death, organização de corridas de Flat Track e tantas outras loucuras que poucos entendem por aí. Nesse tempo, os negócios passaram por diferentes conceitos.
Lembro que na época, na empolgação da tal pista oval de terra, ainda mal sabendo ligar uma moto, resolvi dar uma rápida e pequena voltinha, que foi finalizada por um belo de um tombo (medo escancarado na cara) em uma Harley na pista que havíamos montado em Curitiba. Depois desse incidente, resolvi que meu papel seria de fato os bastidores (risos). E claro, seguindo com projetos e ações de incentivo as mulheres.
Em 2019, além do #ElasPilotam completar 01 ano, o BMS ser consagrado como um evento que faz a diferença para a cultura custom no Brasil, fizemos um rolê e tanto pela cidade com mulheres de vários cantos do Brasil. E, consegui, reunir um grande número de pilotas de velocross para a categoria feminina do Campeonato Paranaense que rolou durante o evento. Sem dúvidas, esses dois momentos marcantes, foram combustível para ter certeza que o caminho tava certinho. Sem nenhum desvio.
E olha a Edna do Prado ali. Nossos caminhos já tinham se cruzado =)
[quarto mergulho]
Eis que chegamos em 2020. O ano estava só começando, muitos planos e planejamentos para eventos ainda mais insanos, como eu costumo falar. Aí vem um cometa e transforma minha vida.
Em janeiro, recebi o convite da Bree Poland, que é Gerente de Marca Global Royal Enfield (ela é uma daquelas mulheres top 10 fodas que eu me inspiro) para substituir uma das pilotas (a Melissa Paris) durante a primeira competição do BTR na América do Norte. Eu não sei o que me deu, aceitei, sem medir consequências ou sequer me lembrar que eu jamais havia competido na vida, a não ser corrida nas aulas de educação física da época da escola.
[Um detalhe: na adolescência tive uma complicação no ombro direito, com consequências para a vida, que me fez acreditar que eu não servia para nenhum tipo de esporte, nem sequer exercício físico.]
Desafio aceito, a ficha caindo, e a passagem comprada. Recebi via email minha inscrição do Flat Out Friday. Eu berrava, não acreditava que eu estava recebendo aquilo, o evento que eu tinha o sonho de conhecer como público agora eu estava indo para competir. Uns me chamaram de louca, outros de corajosa. Estava tão eufórica que pouco me importava. O dia de realizar algo extraordinário na minha vida estava chegando.
Costumo falar que existem oportunidades que só aparecem uma vez na vida e se você não aceitar, não "meter a louca", o arrependimento será grande e irreversível.
Pra encurtar a história, precisei mudar meus hábitos, passei a treinar e fui com tudo, apenas com o sentimento que daria tudo certo se eu soubesse arrancar a moto na largada, pois terminar a prova já era outra história.
Foi então que a pandemia chegou como um tsunami, tudo foi cancelado, tudo mudou...
Eu, e mais toda a equipe de brasileiros preparados para a competição, já estávamos nos EUA quando a notícia do cancelamento foi divulgada. Então o que fazer? Aproveitar o momento da melhor maneira!
Penso que tudo que acontece em nossas vidas são oportunidades para nos colocar em rotas certas. Depois que voltei (tentando entender o que estava acontecendo) refleti muito sobre os fatos: a pandemia, o lockdown, o que não aconteceu, o que aconteceu. Estava passando por um período de fortes crises de ansiedade e pânico [quem não], mas cheguei a conclusão de que tudo aconteceu como deveria.
As relações que eu criei durante minha estadia em Milwaukee, mesmo com todos os cancelamentos de eventos, foi surreal. Eu jamais conheceria as pessoas da forma que conheci se fosse diferente. Tive um contato muito próximo com Bree e todas as mulheres participantes do BTR e de projetos e marcas importantes. Foi incrível, incentivador e motivador. Principalmente com a notícia que o mesmo BTR viria em breve ao Brasil.
Mas, aqui no Brasil, a nossa realidade era outra.
O ramo de eventos 1000% atingido. Me encontrei perdida, desnorteada, sem respostas. Nos afundamos durante mais ou menos 3 meses em dúvidas, medos, preocupações, incertezas, frustrações e muitos outros sentimentos que quem empreende sabe do que estou falando.
[quinto mergulho]
Cabeça mais concentrada, mundo que continuou a girar, contas que batem na porta todo mês, equipe, projetos que não podem parar. Foi aí que unimos forças entre BMS e Rodeo e criamos o On Track, uma corrida de Flat Track online e ao vivo que mobilizou toda a comunidade duas rodas do Brasil. De forma segura, respeitando tudo e todos, promovemos de forma inusitada o crescimento do esporte.
Aquele animo e “loucura” da competição começou a voltar."Chegou a hora da minha primeira arrancada oficial em uma competição?" Me perguntava. E era obvio que sim, era o momento de montar a minha 1ª moto de Flat Track, não mais a moto de outra pessoa, ou tão pouco substituindo alguém. Em terras brasileiras, estava disposta a mudar novamente a rota para fazer história e escancarar portas para mulheres entrarem nesse esporte.
Foram meses de muita mudança. Fortaleci o corpo e principalmente o ombro, aprendi novas habilidades, treinei muito até competir pela primeira vez ao lado de nove pilotos na categoria estreante FT411 – Himalayan da Royal Enfield.
Confesso que razões pessoais fizeram parte dessa caminhada, de mudança e coragem. Minhas para comigo mesma. Mas sempre existiu ELAS, as mulheres que estavam me acompanhando, umas que conhecia mais, outras que não tive muito contato, vindo falar comigo, mostrando interesse nas corridas, na competição, nesse mundo, se sentindo encorajadas e incentivadas.
Claro que aprendi da pior maneira que uma mudança só depende de você e existem momentos que você precisa E DEVE se colocar em primeiro lugar, cuidar da saúde física, mental, manter o foco para que nada de ruim aconteça. Não foi fácil, mas estou aqui te contando essa história.. ufa!
[sexto mergulho]
Fechei 2020 com o último mergulho: minha participação na competição. Acho que você já sabe e viu como foi a minha participação e o resumo de tudo (senão olha só a montagem que a Mo Dantas fez).
O que posso dizer que foi o maior aprendizado da minha vida profissional e pessoal. Entendi que não se produz um evento, não se cria um roteiro de um evento, quando você estiver competindo, ok?!
Brincadeiras a parte, dia 01/02/2020 dei um mergulho definitivo e tive a plena e total certeza que meus propósitos estavam no caminho certo e que tudo valeria a pena, por mim, pela mulher da minha vida_minha mãe [64]_ as mulheres que trabalham ao meu lado, me apoiando, me aturando, me incentivando, me levantando e todas as mulheres do mundo.
Mergulhei de cabeça. Dessa vez, ambulância, susto, medo, adrenalina, sangue nos olhos, só queria a minha moto, descobri uma Bruna que eu não tinha contato até então. A Bruna que entrou na pista pra dar o seu melhor.
[ ]
Depois de muitos mergulhos vem o avanço, a hora de olhar pra cima, e ver efetivada sua conquista. Objetivo concluído!
Se me tornei uma piloto profissional ou atleta, como muitos falam, não sei. Acho que tem muita estrada pela frente para tal. O que sei, é que esse esporte se tornou meu hobby, abrindo novas portas, para novas experiências. E é essa adrenalina e diversão que quero para minha vida.
Olhando para o alto, hoje vejo mais mulheres investindo tempo, dinheiro, traçando sonhos, mudando hábitos, treinando e modificando suas motos pra correr na tal pista oval de terra. Em 5 meses, passei de 1 mulher para 6 mulheres no Flat Track Brasileiro.
Não consigo expressar em palavras o que isso significa, o quanto isso significa. O caminho é longo eu sei, mas essas mulheres, nós, de mãos dadas e unidas pelo mesmo propósito vamos muito longe. E quanto mais eu conseguir incentivar, ficarei mais forte para continuar.
...
A partir de agora, aqui no nosso Portal, cada uma dessas mulheres, suas histórias, momentos, experiências vividas, cada avanço, aprendizado e superação. Vamos contar tudo nessa série sobre as mulheres que viraram a chave de suas vidas e entraram nas pistas de diferentes modalidades.
Já deixo aqui um agradecimento mais que especial às primeiras mulheres a fazerem história no Flat Track em terras brasileiras: Edna do Prado, Darla Farnesi Aleixo, Lissa Miranda, Fernanda Frois e Ana Luisa Machado.
Para saber mais sobre a minha história, me acompanhe em @brunawladyka
Se você conhece alguma mulher piloto manda pra mim, vou colocar a história dela aqui
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