Na verdade, nada. Perfect Days tem a ver justamente com o oposto de viver cronicamente online. Leia abaixo para saber mais.
No mês passado, tive um bloqueio na escrita, cujo motivo acredito conhecer, algo que faz parte da montanha-russa que é minha vida (quem me acompanha desde o primeiro texto sabe do que estou falando — a tristeza desproporcional que é minha sombra). É curioso como, às vezes, temos certezas sobre algumas coisas, e depois já não temos mais. As crenças se embaralham, e você volta a se observar.
E por que falo disso? Porque tenho andado meio incomodada com algumas coisas na minha vida, como se eu tivesse "tudo" e, ao mesmo tempo, nada. Estou extremamente irritada com o ato de me observar, porque tudo o que eu queria era estar alienada. É sério. Eu queria estar alheia ao que anda acontecendo no mundo, na minha cidade, com as pessoas, com os meus trabalhos... Queria simplesmente estar longe. Sinto que, desta vez, estou parada na roda do hamster. Não estou correndo, não estou atrás de respostas, estou apenas cansada.
É claro que não posso me desligar completamente do mundo, principalmente por conta do meu trabalho (mas como eu gostaria, quem sabe, de um ano sabático? rs). Nem sei se algum dia será possível nos desconectarmos de verdade. Aprendi que as coisas que acontecem comigo têm um efeito tardio. É como se eu processasse o que acontece apenas semanas e semanas depois — lembra quando precisávamos fazer o download de algum filme que queríamos muito assistir, mas havia poucas seeds? O download podia demorar uma eternidade. Então, eu sou esse download aí! (risos de nervoso).
É um ciclo (as vezes, doloroso) entre sentir, aceitar, melhorar, falhar e repetir. Curiosamente, notei que estar cronicamente online tem contribuído para que certas partes desse "processo" não fluam. Ficamos tão acostumados a ter muito do que precisamos resolvido facilmente no dia a dia que esquecemos que o principal leva tempo, né? Esses dias, participei de uma noite carismática (não sei qual sua religião, mas acredito que, seja qual for, a espiritualidade é importante para todos nós) e foi muito especial.
O que foi dito durante a pregação — que o tempo de Deus não é o nosso tempo — tem sido minha força. No fundo, quero abraçar o mundo, mas a realidade dos meus braços é outra. Quero ter as respostas, mas ainda não as tenho. Sinto algumas pontas soltas e espero que, um dia, elas se entrelacem novamente. No fundo, sei também que é só o desejo de encontrar um alívio (que seria estar alienada) em meio às responsabilidades de ser adulta e tomar minhas próprias decisões. No fundo, tenho medo, diariamente, de não saber o meu futuro e gostaria que as coisas fossem mais fáceis.
O que sei, no momento presente, é que viver online me cansou. Talvez, em alguns meses, todo esse "embaralhado observativo" passe e as reflexões me ajudem a ajustar algum ponteiro interno. Mas faço um convite: experimente se perguntar aí também, quando foi a última vez que você ficou fora do online?
Aproveitando, escrever sobre isso me lembrou de um dos meus filmes preferidos deste ano, de um dos meus diretores favoritos. Deixo aqui a indicação para assistir Perfect Days, do Wim Wenders. Acredita que precisei assisti-lo em dois dias? Antigamente, isso para mim seria um "crime" e reflete um pouco da minha impaciência (que vem dando sinais desde maio, e eu não percebia). É um filme lento, feito para ser apreciado, provocativo no silêncio, para tocar na ferida: estamos realmente vivendo em atenção plena ou apenas existindo?
Acho que ele traz exatamente essa reflexão sobre a importância de nos desconectarmos para vivermos de forma mais presente. O filme nos guia pelos dias aparentemente simples do protagonista, que tem uma vida rotineira, mas cheia de detalhes que muitos de nós, vivendo tão acelerados e online, não percebemos. Há uma beleza em estar desacelerado, em encontrar sentido nas pequenas coisas do cotidiano. Wim Wenders disse uma vez que "a realidade é mais rica que a imaginação", e talvez seja isso que perdemos quando estamos imersos no digital. Às vezes, a verdadeira liberdade está em estarmos mais conectados ao mundo real e menos àquilo que nos distrai.
Sem mais delongas, assista e escute a linda trilha sonora aqui.
Sobre a autora
Amanda gosta de música, viagens, cinema e literatura. Formada em Letras, começou a atuar na Comunicação e Marketing por acaso, e especializou-se em Copywriting e Gestão de Mídias Sociais. Adora ver seus artistas favoritos ao vivo e não troca seus shows por nada. Carinhosamente é apelidada de "Amandinha do Rock" por seus amigos mais íntimos e tem um coração gigante. Seu sonho atualmente é decidir qual moto comprará e terminar de construir seu cantinho pra morar - além, é claro, de conhecer York na Inglaterra e andar pelos morros que foi filmado Wuthering Heights de 2009. PS: escrevi tudo em terceira pessoa porque acho chic, risos.
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