Eu estava tão ansiosa por essa viagem que pensei em desistir várias vezes. Sim. VÁRIAS VEZES.
Seria a primeira vez que eu faria viagem longa sem o meu companheiro de estrada e de vida. Seria a primeira vez em viagem longa com uma amiga que eu só conhecia pelo
Instagram mas que eu já admirava demais. Seria a primeira vez enfrentando os medos que eu nem sabia que tinha.
Marcamos às 6 da manhã para sairmos, e com um leve atraso da minha amiga Fabi, fomos. Estava friozinho e aproveitamos as primeiras horas do dia para ir se conhecendo na estrada tinha pouco movimento até a entrada da BR-282 na subida da serra, sentido Lages-SC.
Mas logo começamos a nos deparar com os caminhões na nossa rota, e até esperávamos por isso, só não queríamos que fosse tão cedo!
Pois bem, com 100km tivemos a primeira parada para tomar café, pois saímos sem comer quase nada. Então conversamos um pouco, perguntei como ela estava, se o ritmo estava legal, pois como ali eu era quem estava guiando, eu queria ter a certeza que ela estava bem. Então comemos e seguimos.
O clima começou a esfriar mais, logo depois de Bom Retiro e apesar de o ritmo estar ótimo, estava super intenso pelo movimento de veículos na estrada.
Sério! Mesmo com toda essa intensidade, estávamos curtindo muito a viagem, e com um céu azul maravilhoso… E por algumas vezes precisávamos parar para registrar em foto.
Paramos mais uma vez em Lages, e em Barracão, onde almoçamos. E novamente perguntei se o ritmo estava legal, pois estávamos entrando em uma região sinuosa e muito bonita com plantações de soja e milho. Estava sempre de olho no retrovisor pra ver o rastro da estrada e também acompanhar a minha amiga.
Essa estrada fica entre Tapejara e Coxilha, no Rio Grande do Sul, e embora a estrada fosse muito boa, não possuía acostamento, o que sempre me deixa mais de orelha em pé..
Era curva em cima de curva, e sempre com um visual fantástico. Era impossível não se pegar admirando aquele dia, e aquela estrada. Eu estava terminando uma sequência de curvas quando um carro que vinha na direção contrária fez a curva fechando em cima de mim e buzinando. Achei até que ele estivesse bêbado tentando fazer merda. Logo pensei: “Deve ter levado gaia!” - risos. Mas daí olhei o retrovisor e não vi a minha amiga Fabi, e o carro parando logo na curva.
Meu coração gelou e eu pensei estar me precipitando. Decidi voltar e acenei para que dois motociclistas que estavam vindo ao contrário parassem e os informei do que poderia ter acontecido.
Cheguei e parei a moto como deu, numa estrada secundária de chão. Os amigos motociclistas que pararam, um deles médico, já a estavam auxiliando fazendo testes sobre alguma fratura ou concussão. E eu corri para saber se ela estava bem. E ela estava bem - GRAÇAS A DEUS - consciente e já teimando em se levantar. E eu tentava manter a calma, pois eu precisava, ela precisava.
Um dos motociclistas ligou para o Corpo de Bombeiros e em menos de uma hora, a ambulância chegou e ela foi cuidadosamente colocada na maca para seguir para o hospital e fazer o atendimento necessário. Os motociclistas se despediram e desejaram melhoras pra ela.
Aproveitei que a bateria do celular ainda estava cheia, liguei para o esposo dela para falar do acontecido e também resolver a questão do guincho. Terminada a ligação, foi a hora de ligar para o Triska e deixá-lo ciente do que ocorrera. Eu ouvi a voz dele, e foi naquele momento que desabei. Chorei, e de repente o medo de estar ali sozinha tomou conta de mim. Que sensação ruim. Eu estava sozinha no meio do nada.
Eu tinha pouca bateria e economizei ao máximo. O sol ainda estava alto e até aquele momento eu não enxergava um lugar para ficar na sombra aguardand
o o guincho que havia solicitado. Fiquei atrás de uma placa de sinalização até conseguir enxergar um lugar pra ficar na sombra num ponto de ônibus.
Estava com sede e não tinha um lugar próximo para comprar uma água, e logo uma surpresa. Os dois motociclistas que nos ajudaram mais cedo voltaram e trouxeram água e biscoito recheado pra mim. Muito obrigada rapazes!
O guincho demoraria mais que o esperado, e antes de anoitecer um rapaz, o Guilherme, que estava num evento de moto em Getúlio Vargas-RS e amigo da Lita Bia de Passo Fundo parou e disse que soube do acontecido e que iria ficar ali comigo até a hora do guincho chegar.
E assim foi, conversamos e aguardamos o guincho por umas duas horas. O guincho seguiu para Florianópolis-SC eo Guilherme me acompanhou no trecho restante até Coxilha, onde ainda tinha muita curva e eu ainda estava bastante insegura.
Me despedi e segui para hospital para ver a Fabi, e chegando lá, ela estava já sendo bem atendida pelo corpo médico do Hospital das Clínicas de Passo Fundo. Eu vê-la bem, apesar dos traumas e com o humor que já é super conhecido me tranquilizou demais. E pude respirar em paz.
Deixei ela dormindo e voltei no outro dia onde fiquei com ela até o esposo dela chegar e o meu também. Pois é. O Triska precisou vir me buscar, pois eu havia perdido a coragem de voltar sozinha.
Na volta para Florianópolis eu não conseguia acelerar ou fazer curva segura. Foi muito desgastante pra mim esse medo me dominar. E infelizmente dominou. Passei um mês criando todo tipo de desculpa para não subir na minha moto. Um mês parada. Mas eu precisava fazer algo pra mudar pois era minha paixão que estava em jogo. Minha paixão pela estrada!
Subi na moto e decidi fazer um rolê de 80km. Que seja. Eu tinha que vencer o medo. E venci. Estava com medo e fui com medo mesmo!!
E a Fabi? Está maravilhosa se recuperando e já pensando em voltarmos para esse lugar no ano que vem! Ela é sem dúvida meu maior exemplo de coragem e superação!
Ps.: Pessoal usar equipamento de segurança é de extrema importância. Pode ser um rolê curto ou longo, nunca sabemos o que pode acontecer. Capacete fechado, luva fechada, calça com proteção e jaqueta. Não dá pra vacilar. #FicaDica
Comments