Por Gabi Hoover
“Daqui a pouco eu saio para ir ao salão cuidar do meu cabelo”.
Me lembro de minha visita lá em fevereiro de 2020, foi a última vez em que colori meu cabelo com química. Mal consigo acreditar que estou, finalmente, encarando a decisão de deixar que meus precoces cabelos prata tomem conta da cabeleira que sustento.
A primeira vez que colori meus cabelos tinha 19 anos. Foi na casa da mãe da minha amiga Kari, lá em Descalvado, SP. De lá até 2020, nunca mais deixei de pintar. Aliás, desde aquele final de semana, meu cabelo se tornou uma forma para me expressar, passar um recado sobre mim. Afinal “a primeira impressão".
Tive cabeleira, cabelinho, versão raspada, picotada, loiro, moreno, e tentei um vermelho que não deu muito certo. Mais da metade da vida que já vivi, brincando com o meu cabelo. Daí veio a mer..🤬 desse vírus pra reescrever tudo.
Na minha história, decidi reescrever o capítulo do cabelo. Fui buscando inspirações pela net, claro. Minha amiga de Itanhaém, SP, a Juliana, deu esse passo anos antes do assunto virar pauta; minha tia Dina também. Mas aí, com o vírus, e cabelo natural virou #trend. Celebs e influencers deixando seus cabelos #branquear #silversisters. Mulheres lindas. E decididas, sim!
Cá entre nós, confesso aqui depois de 43 voltas em torno do sol:
essa tem sido a transformação mais difícil pela qual já passei em minha vida.
Eu não planejei deixar o cabelo natural. Foi algo que começou por força das circunstâncias mesmo (que fique claro entre a gente: eu não tenho coordenação para pintar meu cabelo sozinha). Os meses se passaram, vários deles até que eu pudesse ir ao salão novamente. Foram meses o suficiente pra deixar uma boa raiz amostra, e um pontapé pra um desafio pessoal, que virou também uma provocação social.
Desafio que mexe com meu ego, minha auto-estima, e até minha identidade. Minha identidade de mulher, cis, brasileira, Bacharelada, independente, que é também mulher latina, norte-americana naturalizada, mãe de menino misturado, dona-de-casa privilegiada, e, acima de tudo isso, um ser que pensa, mas que adora um #BigBrotherBrasil.
Mas o que isso tem a ver com motociclismo?
Quase tudo (coloquei o Big Brother ali só pra relativizar).
O que mais me atrai no motociclismo enquanto um estilo de vida é justamente esse seu lado defiant (desafiador) e transformador, que ensina resistência, fluidez, e a viver mais com menos. Mas, assim como os cabelos prata, para o bem ou para o mal, sempre tem uns palpiteiros de plantão, especialmente para nós mulheres.
“Não faz isso, você é tão nova”; “Ahhh… por que se arriscar”.
Convenhamos: as pessoas, de modo geral, sentem-se muito mais a vontade para dar um palpite sobre nossas preferências femininas (seu cabelo, a roupa que você veste, o veículo que você usa, a cor do seu esmalte, etc), do que as preferencias de qualquer homem em nosso convívio (se você se identifica: levanta a mão, ou coloca um coração pra esse texto).
Acontece que, na minha opinião, cada uma de nós vivencia essa coisa do cabelo e de estilo de vida de uma forma muito particular. Da mesma forma lidamos com nossa identidade, que está diretamente ligada às experiencias de vida que tivemos e à nossa realidade (ou seja: a bolha em que vivemos). E, então, como misturamos e somos afetadas por tudo isso nos ciclos de nossa vida. 🤯
Tudo bem que alguns não gostam de mulher de cabelo prata, ao vento, em cima de uma moto. Se for tatuada e feminista então ... vixeeeeee...
E tudo bem mesmo. Sabe por quê? No final do dia, quando eu coloco minha cabeça no travesseiro e reflito sobre o dia que passou: eu sei quem sou. Eu sei de onde vim, onde estou, e pra onde quero ir. E sei disso, porque nesses anos de vida percebi que minha identidade é tão fluida como meus cabelos.
Nesse mês, aqui no Portal, exploramos temas que envolvem identidade, conexão, empoderamento, e informação. Celebramos nós MULHERES. Celebramos nossa história, nossas conquistas, e reafirmamos nosso compromisso de humanidade e evolução. Afinal: t
the future is female (o futuro é delas)
A gente vai mostrar mulheres que estão quebrando tabus a frente de negócios e mercados (ainda) tipicamente masculinos. Teremos lives, uma super ação pra espalhar a vibe do #ElasPilotam por todo o Brasil.
E quanto ao meu cabelo: por agora, continua prata, no sol fica ouro, e no geral dá trabalho!
Seguimos. Pois, unidas ninguém nos segura!
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