Por Gabi Hoover
Nota: Terminei esse texto ainda em Outubro, de 2021. Alguns dias depois, um fatídico acidente aéreo levou do Brasil a artista Marília Mendonça. Nesse texto eu falo de música, e falo sobre o quanto as músicas que eu escuto impactam a minha vida. Não posso escrever sobre a música da Marília Mendonça, porque esse é um gênero musical que não acompanho. Mas do ponto de vista de uma mulher que luta por oportunidades e direitos iguais, sei sobre sua importância na indústria musical e sobre seu movimento dentro do que hoje conhecemos por "Feminejo".
Fato é que não dava pra falar sobre música e os impactos dela na vida das pessoas, sem levar em consideração a contribuição de Marília Mendonça para as mulheres que fazem e vivem de música no Brasil. E, mais ainda, para as mulheres que encontraram em suas letras, na sua música, na sua presença, suas próprias histórias.
Para além do som, Marília será sempre um clássico sobre a independência e a força da mulher.
Esse ano a clássica versão de "Me and Bobby Mcgee" na voz de Janis Joplin completou 50 anos. A Janis, infelizmente, não chegou nem aos 30 anos. Ela faz parte de um seleto grupo de mitos do rock e da arte que morreram aos 27 anos, e que deixaram um legado maior que suas músicas e interpretações. Ouso dizer "maior", porque muitas dessas pessoas - Jimmy Hendrix, Jim Morison, e Kurt Cobain pra citar alguns - foram também ícones de comportamento e contra-cultura em suas gerações.
I was playing soft while Bobby sang the blues, ...
"eu estava brincando, enquanto Bobby cantava um blues..."
Estou ouvindo a canção enquanto me alongo para começar o dia. A saudade de estar com minha família no Brasil, as possibilidades, as variantes. Já são quase dois anos sem abraçar minha mãe. Viajando na voz da Janis, penso sobre liberdade, e sobre aqueles que, como ela, morreram jovens. Não consigo deixar de imaginar o que diriam, ou melhor, como comporiam a realidade que vivemos nesse início da década 2020's.
Entendam, música é tipo a "gasolina" que move minha vida, em seu âmbito mais espiritual e místico. Se estou triste: música. Se estou feliz: música. Se estou meio a meio: música. Quando me arrumo pra sair: música. Acho que já deu pra entender né?
E, com sua voz rouca, Janis canta:
"Freedom' is just another word for 'nothing else to lose'"
que em português fica: "Liberdade é apenas outra palavra para "nada a perder".
Pode parar, e pensar sobre isso aí um pouquinho. ... mas depois volta pro texto.
Música e Moto/ Moto e Música
Pois um não vive sem o outro. Estão entrelaçados em seus enredos, e em seus simbolismos. São opostos e iguais ao mesmo tempo. São campos neutros, em tempos de guerra.
Minha playlist mudou e foi da Janis pro Pink Floyd. Em perfeita harmonia escuto:
"I have become comfortably numb"
"me tornei confortavelmente anestesiado"
Lembrei das notícias de quando Roger Waters esteve no Brasil em 2018 e foi vaiado pelo público (que diga-se de passagem deve ter pagado uma boa nota pra assistir o cara) após ter feito menção a campanha #EleNão durante o show em SP. Vergonha alheia (não dele, mas daqueles que vaiaram).
Será que o problema com a sociedade é que as músicas de hoje não são mais como as de antigamente???? (#cringe)
Sinceramente, essa discussão não vem ao caso aqui. Cada geração, cada momento na história, cada cultura tem sua trilha sonora.
O fato é que essa "trilha" canta e conta o cenário social do momento. E, assim, se torna uma excelente fonte de história. E (na minha opinião) só vira clássico aquele som que sobrevive para além de sua geração.
Novamente, música nos meus headphones muda (pra dar o ponto que eu precisava).
So close, no matter how far....
"tão perto, não importa o quão longe...
Desta vez, um clássico do Metallica, na voz jovem e rouca de Miley Cyrus, com arranjo de Elton John. Eu já falei por aqui que andava obcecada por essa música. Tanto que até fiz uma playlist só pra várias versões de "Nothing Else Matters" que encontrei no meu streaming.
E por falar em Streaming
Em Outubro, estreou nos streamings a música "Rastro de Fogo", da banda Zona Western. Uma balada no estilo "outlaw" (fora da lei), que teve como inspiração o movimento #ElasPilotam. A música está disponível nas plataformas ou você pode ouvir agora clicando aqui também.
Elas Pilotam com a alma e é um Rastro de Fogo, perfume de paixão pela estrada...
Fui longe. Mas o rastro de fogo é nosso. Vem de um lugar que fala de liberdade na estrada. Mesmo essa liberdade ainda sendo tão restrita (afinal, o que é que temos "a perder"?). Pilotamos pra chegar em algum lugar, pilotamos sim por nossa liberdade. Pelo nosso direito de ir e vir, escolher e decidir.
Unidas estamos indo longe. Mas o lance dessa nossa viagem é que embora a gente saiba onde queremos chegar, passaremos a vida na estrada. Então é melhor ter uma trilha que seja coerente.
Se a arte imita a vida, ouso sugerir - orientada por clássicos do rock brasileiro dos anos 1980 -, que a vida é também uma repetição da arte. Então se liga e aumenta o volume.
Não se entrega não, ainda tem chão. Respira. // Sei que falta ar, mas, de algum lugar, a gente tira. // Não há mal que sempre dure, meu amor procure.. Apenas estar, e não entrar na pira. Respira. Respira.
Deixo esse verso da recém lançada "Respira", parceria delícia entre Zeca Baleiro e Chico Cézar , que entrou na Playlist em modo repete.
Música pra mim, é missa!
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